Médicos de Pernambuco paralisam parte das atividades por 24 horas


Os médicos das redes pública e privada de Pernambuco iniciam uma paralisação nesta quarta-feira (3), em adesão ao movimento nacional contra os recentes anúncios de medidas do governo federal na área de saúde, especialmente a contratação de médicos estrangeiros para as áreas interioranas do país. A paralisação será de 24 horas e se dá exclusivamente nos serviços que possam ser reagendados, como consultas e cirurgias eletivas. São mantidos os atendimentos essenciais como urgências, emergências, quimioterapia, oncologia e serviços de alta complexidade.

“Não visamos a desassistência da população, nossa ideia não é levar sofrimento a quem já sofre”, afirmou o presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Mário Jorge Lobo. A paralisação foi detalhada em coletiva de imprensa, na sede do sindicato.

Lobo afirmou que o anúncio da presidente Dilma Rousseff de contratar médicos estrangeiros é uma das motivações da categoria. Os representantes das associações e sindicatos garantem não serem contrários à contratação de médicos estrangeiros e sim à ausência da avaliação de competência. Atualmente, o Brasil conta com um sistema de revalidação de diploma conhecido como Revalida, que vê a capacidade e adequação do currículo para determinadas áreas, além da fluência na língua portuguesa. A avaliação é feita pelo Ministério da Educação e pelo Ministério da Saúde. “Esse é o sistema que defendemos. O que a presidente propõe é que venham médicos que, por não revalidarem o diploma, não tenham pleno direito de atuar em qualquer lugar do país e sejam obrigados a atuar em áreas específicas, determinadas pelo governo. 

É uma situação de humilhação aos médicos que viriam de fora”, disse.
A reivindicação da categoria também se dá por melhores condições de trabalho dos profissionais, segundo a presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), Helena Carneiro Leão. "Nós não criamos leitos, o fato de trazer milhões de médicos não vai resolver nossa saúde. É um conjunto de coisas, não é tão simples de resolver criando artifícios e vínculos precários", disse Helena.
Os médicos propõem destinar 10% da receita bruta de cada esfera, federal, estadual e municipal, para investir na saúde do país, além de recursos humanos, carreira de estado, possibilidade de deslocamento entre os municípios e a realização de concurso público, destinando cargos a médicos estrangeiros apenas se o concurso não preencher todos as vagas.

De acordo com os representantes do movimento, foram enviados ofícios em nome do Simepe, do Conselho Regional de Medicina (Cremepe) e  da Associação Pernambucana de Médicos Residentes (APMR) à Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), aos secretários de saúde municipal e estadual, bem como ao prefeito do Recife, Geraldo Julio, e ao governador do estado, Eduardo Campos, ainda sem resposta.

De acordo com o presidente do Simepe, Mário Jorge Lobo, a categoria reivindica uma audiência e pede para que o governo não se cale frente à situação. “Queremos uma reunião com os representantes do povo para que a gente discuta e que eles se posicionem de forma contrária à contratação de profissionais sem a devida qualificação, evitando risco de expor a população, que já está em condições precárias”, afirmou.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) também se juntou ao movimento e encaminhou um ofício separado aos mesmos órgãos. De acordo como o presidente da Comissão de Saúde da OAB, Eduardo Dantas, a bandeira levantada é pela qualidade da formação profissional. "Nós entendemos que as soluções propostas para o encerramento do problema da falta de médicos é equivocada. Estão tratando do sintoma e esquecendo a doença. Não é um ato de xenofobia, o que defendemos é que a lei seja cumprida e que não tenhamos profissionais sendo trazidos sem a aferição da capacidade técnica deles", avaliou.
Ainda nesta quarta-feira, os médicos devem se reunir na praça do Derby, área central do Recife, a partir das 14h, e partir em caminhada às 16h da Avenida Agamenon Magalhães até o Parque Amorim e, depois, de 
volta à praça do Derby.

Fonte:  http://g1.globo.com/pernambuco/noticia